segunda-feira, maio 13, 2013

A carta de Mozart ao Abbé Bullinger sobre a morte da mãe, 3 de julho de 1778.


Meu mais querido amigo!

Só para você.

Lamente-se comigo, meu amigo! Este foi o dia mais triste de minha vida — escrevo esta às duas horas da manhã. Preciso dizer-lhe que minha mãe, minha querida mãe, faleceu! Deus a chamou para Si. Era sua vontade leva-la, isso pude ver claramente — por isso resignei-me à Sua vontade. Ele a deu para mim, por isso Ele tinha o direito de tirá-la de mim. Pense, porém, em toda a minha ansiedade, nos temores e tristezas que tive de suportar nos últimos quinze dias. Ela estava praticamente inconsciente no momento de sua morte — sua vida apagou-se como a chama de uma vela. Três dias antes de morrer ela se confessou, recebeu o Sacramento e a extrema-unção. Durante os últimos três dias, no entanto, delirou constantemente e hoje, às cinco horas e vinte e um minutos, a agonia da morte começou e ela perdeu todas as sensações e a consciência. Apertei-lhe a mão e falei com ela — mas ela não me viu, não me ouviu, todos os seus sentidos haviam desaparecido. Ela ficou assim até ter expirado, cinco horas depois, às dez horas e vinte e um minutos. Só estávamos presentes eu, Herr Haina (um gentil amigo que meu pai conhece) e a enfermeira. É impossível para mim descrever hoje todo o decorrer de sua doença, mas estou firmemente convencido de que ela estava predestinada a morrer e que Deus assim o havia ordenado. Tudo que lhe peço neste momento é que represente o papel de um verdadeiro amigo, preparando meu pobre pai com muito cuidado para esta triste notícia. Escrevi uma carta para ele, por este mesmo correio, mas só para dizer que ela está seriamente doente; e agora só para dizer que ela está seriamente doente; e agora vou esperar que ele me responda, e guiar-me por essa resposta. Que Deus dê a ele força e coragem! Oh, meu amigo! Não me sinto consolado só agora, como há algum tempo venho tendo consolo. Com a misericórdia de Deus suportei tudo com firmeza e compostura. Quando a doença dela se tornou perigosa, supliquei a Deus apenas duas coisas — uma morte feliz para ela, e força e coragem para mim mesmo; e Deus, em Sua bondade, ouviu minha prece e me concedeu essas duas bênçãos com máxima prodigalidade. Suplico-lhe, portanto, meu mais querido amigo, que cuide de meu pai por mim e tente dar-lhe coragem, de forma que, quando ele souber do pior, não receba o golpe com muita dureza. Recomendo-lhe também minha irmã, de todo o meu coração. Vá procurá-los imediatamente, eu lhe imploro — mas não lhes conte que ela já morreu — apenas prepare-os para isso. Faça o que achar melhor — use todos os meios possíveis para consolá-los — mas aja de forma a tirar-me esse peso da cabeça — e que eu não precise temer um novo golpe. Cuide de meu querido pai e minha querida irmã para mim. Responda-me imediatamente, eu lhe imploro. Adieu, Seu criado mais obediente e grato.

Wolfgang Amadè Mozart


A mãe de Mozart, Anna-Maria.
Retrato de artista descohecido, c. 1775 (Mozarteum de Salzburgo)



Fragmento: As vidas Ilustradas dos Grandes Compositores

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